Dicas para a saúde mental em 2023

Recentemente, dei uma entrevista para o G1 sobre “dicas para a saúde mental em 2023”. Assim como aconteceu com a entrevista dada à Folha de S. Paulo, os trechos selecionados para a matéria final neutralizam (muito) o sentido que tentei imprimir. Nesse caso específico, eu já desconfiava; as matérias de “bem-estar” e “saúde mental” nos jornais costumam ser bastante superficiais. A título de remediar um pouco, segue abaixo a resposta completa que dei.

Talvez uma das questões mais importantes em relação ao nosso cuidado com saúde mental seja que não existe exatamente uma fórmula fácil para todo mundo. Claro, existem coisas que sempre podem ajudar – cuidados com sono e alimentação podem beneficiar todo mundo -, mas a situação de cada pessoa é diferente. Para muitas pessoas, a fonte principal de sofrimento é a família, para outras é o trabalho. Nem sempre coisas simples como meditar, passar mais tempo próximo à natureza, ou cuidar do sono irão resolver esse problema, e a busca constante dessas fórmulas pode até trazer mais angústia, porque não vão resolver os problemas de base. Vivemos em uma sociedade que valoriza demais o desempenho, o individualismo, e a competição, e essas coisas sempre nos trazem sofrimento – então não adianta muito meditar ou tentar cuidar do sono quando o que me faz sofrer é essa busca desenfreada pelo sucesso, ou a exploração do meu trabalho, ou o machismo. Muitas vezes, são exatamente essas coisas que fazem com que percamos o sono (pense em um trabalhador precarizado que precisa trabalhar de 12 a 14 horas por dia como motorista de aplicativo para conseguir pagar as contas) ou a alimentação da qual gostaríamos de cuidar melhor!

A gente fala muito em reduzir as telas e as redes sociais, mas nem sempre pensamos em quais são as alternativas. Para algumas pessoas, estar com os olhos grudados no computador ou no celular é uma demanda básica do trabalho, e até mesmo o entretenimento acaba passando por essas telas – seja na forma de um filme ou série por streaming, seja para se conectar com amigos através de uma rede social. Mas tanto os serviços de streaming quanto as redes sociais são organizados pelos princípios da economia da atenção, cuja máxima é nunca deixar você se desconectar. Se é possível para você fazer isso, desconectar das redes sociais, dos serviços de streaming, e de aplicativos de mensagem por um período de tempo talvez seja um bom começo. Talvez com isso tenhamos tempo para voltar a termos relações autênticas com os outros, examinar e cuidar de nós mesmos.

Se eu pudesse eleger duas “dicas”, para quem pode fazer isso, seria diminuir o uso de redes sociais e tentar regular o sono – e geralmente essas duas coisas estão ligadas. As redes sociais tomam muito do nosso tempo e energia, que poderiam ser usadas buscando relacionamentos mais autênticos com as pessoas que nos cercam, entendendo melhor o mundo que nos cerca e como as operações negativas do poder afetam nossa saúde mental, e examinando a nós mesmos.

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